terça-feira, 27 de setembro de 2011

Os bons resultados do ″Madeira é Legal″





Os bons resultados do Madeira é Legal
Representantes do governo, iniciativa privada e ONGs avaliam os resultados do programa Madeira é Legal – parceria voluntária, estabelecida em 2009, para combater o uso da madeira ilegal em SP, no setor da construção civil –, que em dois anos já impediu a entrada de 3 mil m³ de madeira irregular no Estado e firmou, com mais da metade dos municípios, o compromisso de comprar, apenas, madeira legal para a realização de obras públicas.
O Estado de São Paulo é o maior comprador de madeira proveniente da Amazônia, sendo que 70% dela é utilizada pelo setor da construção civil. Por conta disso, em março de 2009, 23 entidades - que representam órgãos do governo, ONGs e empresas privadas da área madeireira e da construção civil - se uniram, de forma voluntária, para criar o programa Madeira é Legal*, com a intenção de combater o uso de madeira ilegal no Estado, sobretudo no setor das edificações.

De lá para cá, uma série de medidas foram tomadas pelos signatários, para cumprir o compromisso voluntário assumido no programa, e, após dois anos de trabalho, representantes das 23 entidades que compõem a iniciativa se reuniram, na cidade de São Paulo, para mostrar os benefícios que o projeto trouxe para o Estado paulista em pouco mais de 24 meses de atuação.

Segundo dados da SMA - Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, graças às ações fomentadas pelo Madeira é Legal, até agora, foi possível evitar a comercialização de cerca de 3 mil m³ de madeira irregular no Estado. E mais: o programa conseguiu mobilizar mais da metade dos municípios paulistas para a causa. Isso porque, desde que foi criado, 355 - das 645 - cidades de São Paulo assinaram o acordo se comprometendo a comprar, apenas, madeira legal para as obras públicas municipais - entre elas, a própria capital do Estado.

Em palestra, na abertura do evento de apresentação dos resultados do Programa, em São Paulo, Sérgio Besserman, economista e ambientalista, disse: "A única maneira de abandonarmos o modelo insustentável de economia que vivemos hoje é a precificação, ou seja, incluir, no preço dos produtos, os danos que causamos ao meio ambiente ao consumi-los. O Madeira é Legal é uma iniciativa louvável, porque dá um passo além e antecipa a implantação desse processo. Em função de valores ou por visão estratégica, as entidades que participam dessa iniciativa estão assumindo, voluntariamente, a precificação e pagando mais caro pela madeira legal, em prol da preservação do meio ambiente".

Entre as iniciativas criadas pelos signatários do Programa para combater o uso de madeira ilegal no setor paulista da construção civil, estão:
- CadMadeira: cadastro público e voluntário que permite identificar as empresas que comercializam produtos e subprodutos provenientes de madeira legal;
- Cursos de capacitação para a Polícia Militar Ambiental, com foco na fiscalização das cargas ilegais transportadas nas rodovias do Estado;
- Desenvolvimento de mecanismos tecnológicos que auxiliam na fiscalização dessas cargas, como, por exemplo, o Microscópio Digital, que manda, em tempo real, para o Instituto Florestal, imagens da madeira, para que possa ser feita a identificação das espécies de árvores utilizadas para a fabricação do produto e
- Produção de conteúdo sobre o tema - como o livro Madeira de Ponta a Ponta*, que esmiúça a cadeia madeireira, produzido pela FGV, e o Guia Prático da Aquisição Responsável de Madeira na Construção Civil*, feito pela WWF-Brasil, em parceria com o Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo, que orienta os construtores dispostos a utilizar apenas madeira legal em suas obras.

PRÓXIMOS PASSOS

Para os próximos anos, além de novas adesões ao Programa Madeira é Legal, as entidades envolvidas na iniciativa têm em vista dois grandes objetivos. O primeiro deles diz respeito ao incentivo do uso de madeira certificada e não, apenas, legal. "Afinal, a lei ainda deixa a desejar em muitos municípios e a madeira legal nem sempre é proveniente de manejo sustentável. Ainda há um grande debate nos órgãos públicos sobre isso. Muitos têm receio de fazer essa mudança e ferir o processo de licitação das obras municipais. Por isso, eu peço a todos os cidadãos que se envolvam nessa causa e pressionem empresas e governo para o uso de madeira certificada", disse Eduardo Jorge, secretário do Verde e do Meio Ambiente da cidade de São Paulo, que também esteve presente no evento.

A segunda grande ambição dos signatários do Madeira é Legal é o incentivo ao uso de espécies de madeira menos conhecidas no mercado. "Atualmente, as duas principais espécies utilizadas na construção civil são a Peroba-rosa e o Pinho-do-Paraná, mas o uso exagerado pode gerar escassez, em quantidade e qualidade, desses produtos. Por isso, o ideal é diversificar e adotar outras espécies. Há várias que podem ser usadas nessa substituição", explicou Márcio Nahuz, do Centro Tecnológico de Recursos Florestais do IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas.

Entre as espécies alternativas sugeridas pela entidade, após intensa pesquisa, estão:
- Acapu (Vouacapoua americana);
- Angelim-pedra (Hymenolobium spp.) e Angelim-vermelho (Dinizia excelsa);
- Guajará-branco (Chysophyllum sericeum) e
- Cupiúba (Goupia Glabra).
(Confira a lista completa no livro Madeira: Uso Sustentável na Construção Civil*, do IPT, disponível na internet)

"O uso de espécies alternativas ainda ajuda a diminuir o número de áreas de exploração de madeira e, consequentemente, a proteger a floresta, porque otimizamos a produção nas áreas que já são cultivadas para esse fim", disse Nahuz.

Animada para as próximas conquistas do Programa, Malu Vilela, coordenadora da RAA - Rede Amigos da Amazônia, que integra o Madeira é Legal, comemorou os resultados obtidos até agora. "Com certeza, eles nos motivam a seguir em frente, com cada vez mais aliados. Estamos mostrando à sociedade que a luta é difícil, mas vencê-la é, sim, possível", afirmou Vilela, que encerrou sua fala no evento lembrando o líder extrativista José Claudio Ribeiro da Silva, assassinado no Pará no final de maio deste ano. "Em sua apresentação no TEDxAmazônia, ele fez um apelo muito forte para que a sociedade passasse a consumir madeira responsável. É um pedido de alguém que morava na Amazônia e conhecia, melhor do que ninguém, a realidade daquela região. Zé Cláudio já não está mais entre nós, mas o apelo dele fica e merece ser difundido", destacou.


Referência:Site Planeta Sustentável

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